28.11.06

Estilhaços

Restaram espalhados por
costas e dedos e lábios
alguns estilhaços teus.
Rebeldes, repuxam e
(controlados por não sei
que fios invisíveis)
determinam às vezes um
movimento repentino de braço
ou de dedos ou lábios.

Não me preocupo se alongam
as noites - mãos e pernas à procura
do teu corpo sob lençóis
intermináveis - nas quais
(aguardando ou o sono ou a manhã)
me pergunto displicente quando
estes teus vão acabar por se juntar
aos outros tantos estilhaços
que carrego (de uma antiga escola,
um amigo desaparecido, alguma
cidade noutro canto do mundo)
e em breve me lembrarão apenas
de mim mesmo, dos meus doze
ou vinte ou cinqüenta anos.

O que apavora, o que transforma
madrugadas e dias insones em batalhas
contra a tua lembrança pregada à carne,
não é essa previsão, de mais um
fragmento de passado entre tantos,
mas a oposta: teus estilhaços
a permanecer sempre assim,
as pedras brancas num
caleidoscópio, e eu a encontrar,
ainda surpreso, a tua ausência
a cada movimento impensado
de braço (ou de dedos ou lábios),
a cada olhar que, involuntário,
pousa no vazio.

2 Comments:

Anonymous Anônimo argúi...

Gê, que legal você por aqui também! Sempre bom te ler.

Besitos,
CarolM.

P.S: Eu amo esse seu poema! Lindo, lindo.

terça-feira, novembro 28, 2006 4:25:00 PM  
Anonymous Anônimo argúi...

Alguém pode me ajudar, aqui? Gracias.

quarta-feira, novembro 29, 2006 10:51:00 AM  

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