Khatija
“La mer dont le sanglot faisait mon roulis doux
Montait vers moi ses fleurs d'ombre aux ventouses jaunes
Et je restais, ainsi qu'une femme à genoux...”
A. Rimbaud
Ao oceano, devia uma vida.
Não só a casa, o peixe e as algas,
o pouco luxo das pérolas em dia de festa.
Uma tarde, também as ondas
lhe trouxeram um lar,
num francês de olhos verde-jade
perfurando a pele de areia.
Àquele mar de cores profundas
devia a prole mestiça, e uma aldeia,
como tantas outras aldeias,
escrita no espelho trêmulo daquelas ondas.
Mas gravado, refletido
e retransmitido infinitamente,
mentia ao mundo
o opaco cinzento de um olhar seu.
Como odiar aquele mar? Como desejar-lhe
o menor mal que fosse?
Quando, cobrindo de azul a terra,
a casa e a vida,
soube ainda ser gentil?
Se, ao saldar as dívidas,
de todo o devido deixou-lhe, flutuando
sobre o caos espiral dos vagalhões de espuma,
um berço
e o filho caçula.
2 Comments:
Esse eu já tinha lido na FNX. Acho muito forte, bem construído, ritmo perfeito. Enfim, estava na hora do senhor tirar as pérolas da gaveta.
E que venham outros!
Küssen.
Que legal!
Escreve muito bem!
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