28.11.06

Letícia

Ziguezagueando, a vida
suspensa no pouco espaço
entre as mesas de um
qualquer barzinho
de segundo andar,
Letícia confia
no sorriso fácil
nos cabelos soltos
e quase que se ouvem
alguns sobressaltos
de quem embalado
talvez pelo samba
tocado de canto
se deixa ao acaso
perder no balanço
do seu caminhar.

Com o meio salário
deixado sem pena
no cabeleireiro
e a roupa escolhida
cuidadosamente
nas horas passadas
em casa no espelho
Letícia faz graça
e parece dançar
(se veste, parece,
como quem vai sempre
à espera de alguém).

Só os saltos já gastos
mirados de perto
desmontam a fêmea
montada com esmero
e deixam de leve
entrever a menina
por baixo do lápis
despida dos brincos
rezando baixinho
de volta pra casa
na outra manhã.

(mas fica a carinha
de quem larga o corpo
e derrete nas mãos)

1 Comments:

Anonymous Anônimo argúi...

Ué, GG, esse eu não conhecia! Muito bom (tá, tá, eu sei que você não gosta desse tipo de comentário, "bom", "muito bom", mas eu gostei mesmo. Sério).

Bisous,
Carol

terça-feira, novembro 28, 2006 4:50:00 PM  

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