30.11.06

Topográfico




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É dia de semana e meu avô me telefona,
deseja almoçar no Hilton.
Tomávamos brunchs no Hilton,
nossos domingos em família;
também em outros locais,
sempre porém no topo.
Ele sempre escolhia edifícios altos
no Centro, de onde, longe das ruas,
respirava-se o progresso
na cidade topográfica.
Algumas vezes, das janelas
viam-se colinas por trás dos prédios,
o pouco que temos de horizonte.

Caminho até a Avenida Ipiranga.
As pessoas nas ruas cobrem-se
de casacos ou enrolam-se em cobertores.
Chego à porta ao meio dia
e o Hilton fechou, me informa um porteiro
sem a antiga farda azul-marinho,
o Hilton mudou-se, deixou seu endereço no centro
para uma localização privilegiada.

Também eu deixarei em breve
de atravessar todos os dias
a rua Boa Vista, deixarei os camelôs
e os restaurantes antigos
e teremos uma imponente fachada
às margens do rio,
com localização privilegiada
e janelas que não abrem.

Não sei se pelas janelas do novo Hilton se vêem as colinas
que existem para além da metrópole
ou se há apenas os bonitos edifícios da marginal
como aquele no qual estarei.

Mas sinto que a cidade, como eu,
veste lentamente um terno cinzento
e vai se enforcando aos poucos,
cada dia de uma cor.