A essência do método sequóias
A Manu me pede pra explicar essa história da espanhola e dos argentinos. O que não deixa de ser contraditório, já que eu começava falando que explicar não era o meu negócio. Por isso é que a única resposta que eu posso dar não reponde à pergunta, entenderam?, esse é todo o nó da questão.
O nó da questão é que parece existir todo um consenso sobre o que é uma resposta adequada a uma pergunta. O exemplo mais óbvio disso é um debate com um bom político - que dá uma resposta que, de acordo com seu adversário, não responde à pergunta. Quer dizer, o emissor apresenta uma dúvida, esperando abrir com isso um leque maior ou menor de alternativas ao interlocutor. Este, porém, não escolhe nenhuma das alternativas concebidas pelo adversário, mas cria a sua própria alternativa e ali marca o "X". Quer dizer, ele sai das regras do jogo, porém de uma forma que não se pode dizer que saiu - pois não há ninguém autorizado a decidir quais são as alternativas permitidas e quais as barradas pela pergunta inicial. Por isso todo o diálogo (não o diálogo de conteúdo, mas essa espécie de 'supra-diálogo' sobre as regras) se trava no campo do convencimento. Num debate político, já mostravam os alemães, o importante não é necessariamente fazer sentido para si mesmo, e certamente não é fazer sentido para o adversário. Pois mesmo que vocês dois saibam que a regra não foi cumprida, o que importa é mesmo a opinião das pessoas que não fazer a menor idéia das regras do jogo - que têm delas apenas uma impressão.
Daí que eu chutaria que essa é a palavra-chave do método sequóias. Tem pessoas demais preocupadas com fazer sentido. Claro que isso não é nenhum problema para burocratas, pois sempre há alguém encarregado de determinar o sentido, de dizer onde começa e onde acaba o leque, se você fez ou não fez sentido, Alice. Porém, quanto mais cartesianos conheço, mais acho que jogar nesse campo, para os artistas, significa admitir a derrota antes mesmo do início da partida. Significa admitir, como faz a Folha, que é possível reunir meia dúzia de entendidos e julgar Capitu, e fim da história. Ou decidir, entre "o parcimonioso Machado de Assis e o derramado Guimarães Rosa", quem é o melhor escritor do Brasil - à exclusão de 185 milhões de pessoas, e mais outros tantos mortos que nem se manifestar podem.
Não se trata, vejam bem, de um relativismo barato (ou melhor, isso já seria uma questão de ponto de vista, ¿não seria?). Porém entendo escrever, que é o que eu consigo mais ou menos fazer, um pouco como tocar música ou pintar ou escolher um perfume - como se cada palavra evocasse no interlocutor toda uma gama irreduzível de coisas, tivesse raízes e levasse a outros lugares, onde dormem bichinhos insuspeitados. Fazer o teste é simples. Musse de chocolate. Glória. Fungos & cogumelos. Curitiba. Cristal. Liquidificador. Carrosséis. Vitória. Mulata. Sândalo. Cocaína. Luta cantando. Forró. Xogum. Rosas. Praça Roosevelt. Ísis e Osíris. Sol entrando pela janela.
Não se pode dizer que essas palavras todas têm cada uma um significado, ou seja, que evocam em quem lê as mesmas coisas que evocaram em quem escreveu. Pois o diferencial da poesia pra uma notícia de jornal não está no conteúdo das palavras, mas no tempo que o interlocutor dedica exatamente àquilo que não é o conteúdo. Por exemplo, algumas pessoas vão ler a seqüência acima no trabalho, em 2 segundos, e verão apenas uma seqüência aleatória de palavras, tendo pulado direto para a parte em que eu explico o que quis dizer com essa seqüência aleatória - estão atrás do conteúdo. Não saberão que demorei uns 15 minutos para escrevê-la, e vou retocando conforme continuo a escrever. Não saberão que provavelmente é a parte mais importante do post, pois foi quando pensei em leitores individualizados (sei que vocês estão aí!) e no que poderá evocar cada palavra neles, incluindo a ordem em que elas estão. A poesia pode estar numa notícia de jornal, mas ela envolve precisamente não encarar a notícia de jornal como uma notícia de jornal deve ser encarada - isto é, dentro do leque esperado pela comunidade comunicante (sic). É preciso apontar uma outra resposta.
Por isso é claro que ao me explicar eu não posso fazer sentido, o que estraga totalmente o sentido do verbo 'explicar'. A comunidade comunicante espera ser levada pela mão a entender um certo, hm, Gedichtsgeist. Porém essa coisa é impossível, não só por ser uma palavra que inventei, mas porque todo o jogo da poesia consiste exatamente em o emissor se esforçar ao máximo para repoduzir no receptor uma sensação, uma emoção - uma coisa, em suma - que ele próprio experimentou, sem portanto dispor dos meios para fazê-lo. É preciso então se virar com o que você tem à mão - e o que eu tenho à mão não é um piano nem uma tesoura nem um spray de tinta, mas um teclado. Quer dizer, vejam bem, o projeto do artista já está fracassado desde o início. Porém, e aqui, e aqui está o ponto central da questão, o artista não é apenas um fracassado: ele é um fracassado com uma arma.
***
Finalmente, sempre acho que se explicar deixa você entre duas alternativas: parecer pedante ou parecer um idiota. Pra deixar vocês na dúvida, adorno de maneira inapropriada, falando de um tema que não tinha entrado na história:
Manu tento responder à pergunta numa próxima. Porém veja que fiz um post bastante americano, não tanto no método como na forma.
Daí que eu chutaria que essa é a palavra-chave do método sequóias. Tem pessoas demais preocupadas com fazer sentido. Claro que isso não é nenhum problema para burocratas, pois sempre há alguém encarregado de determinar o sentido, de dizer onde começa e onde acaba o leque, se você fez ou não fez sentido, Alice. Porém, quanto mais cartesianos conheço, mais acho que jogar nesse campo, para os artistas, significa admitir a derrota antes mesmo do início da partida. Significa admitir, como faz a Folha, que é possível reunir meia dúzia de entendidos e julgar Capitu, e fim da história. Ou decidir, entre "o parcimonioso Machado de Assis e o derramado Guimarães Rosa", quem é o melhor escritor do Brasil - à exclusão de 185 milhões de pessoas, e mais outros tantos mortos que nem se manifestar podem.
Não se trata, vejam bem, de um relativismo barato (ou melhor, isso já seria uma questão de ponto de vista, ¿não seria?). Porém entendo escrever, que é o que eu consigo mais ou menos fazer, um pouco como tocar música ou pintar ou escolher um perfume - como se cada palavra evocasse no interlocutor toda uma gama irreduzível de coisas, tivesse raízes e levasse a outros lugares, onde dormem bichinhos insuspeitados. Fazer o teste é simples. Musse de chocolate. Glória. Fungos & cogumelos. Curitiba. Cristal. Liquidificador. Carrosséis. Vitória. Mulata. Sândalo. Cocaína. Luta cantando. Forró. Xogum. Rosas. Praça Roosevelt. Ísis e Osíris. Sol entrando pela janela.
Não se pode dizer que essas palavras todas têm cada uma um significado, ou seja, que evocam em quem lê as mesmas coisas que evocaram em quem escreveu. Pois o diferencial da poesia pra uma notícia de jornal não está no conteúdo das palavras, mas no tempo que o interlocutor dedica exatamente àquilo que não é o conteúdo. Por exemplo, algumas pessoas vão ler a seqüência acima no trabalho, em 2 segundos, e verão apenas uma seqüência aleatória de palavras, tendo pulado direto para a parte em que eu explico o que quis dizer com essa seqüência aleatória - estão atrás do conteúdo. Não saberão que demorei uns 15 minutos para escrevê-la, e vou retocando conforme continuo a escrever. Não saberão que provavelmente é a parte mais importante do post, pois foi quando pensei em leitores individualizados (sei que vocês estão aí!) e no que poderá evocar cada palavra neles, incluindo a ordem em que elas estão. A poesia pode estar numa notícia de jornal, mas ela envolve precisamente não encarar a notícia de jornal como uma notícia de jornal deve ser encarada - isto é, dentro do leque esperado pela comunidade comunicante (sic). É preciso apontar uma outra resposta.
Por isso é claro que ao me explicar eu não posso fazer sentido, o que estraga totalmente o sentido do verbo 'explicar'. A comunidade comunicante espera ser levada pela mão a entender um certo, hm, Gedichtsgeist. Porém essa coisa é impossível, não só por ser uma palavra que inventei, mas porque todo o jogo da poesia consiste exatamente em o emissor se esforçar ao máximo para repoduzir no receptor uma sensação, uma emoção - uma coisa, em suma - que ele próprio experimentou, sem portanto dispor dos meios para fazê-lo. É preciso então se virar com o que você tem à mão - e o que eu tenho à mão não é um piano nem uma tesoura nem um spray de tinta, mas um teclado. Quer dizer, vejam bem, o projeto do artista já está fracassado desde o início. Porém, e aqui, e aqui está o ponto central da questão, o artista não é apenas um fracassado: ele é um fracassado com uma arma.
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Finalmente, sempre acho que se explicar deixa você entre duas alternativas: parecer pedante ou parecer um idiota. Pra deixar vocês na dúvida, adorno de maneira inapropriada, falando de um tema que não tinha entrado na história:
"O modo como o ensaio se apropria dos conceitos seria, antes, comparável ao comportamento de alguém que, em terra estrangeira, é obrigado a falar a língua do país, em vez de ficar balbuciando a partir das regras que se aprendem na escola. Essa pessoa vai ler sem dicionário. Quando tiver visto trinta vezes a mesma palavra, em contextos sempre diferentes, estará mais segura de seu sentido do que se tivesse consultado o verbete com a lista de significados, geralmente estreita demais para dar conta das alterações de sentido em cada contexto e vaga demais em relação às nuances inalteráveis que o contexto funda em cada caso. [...] O ensaio não apenas negligencia a certeza indubitável, como também renuncia ao ideal dessa certeza."
Manu tento responder à pergunta numa próxima. Porém veja que fiz um post bastante americano, não tanto no método como na forma.
1 Comments:
Une fois qu'on atteint ce nombre 144000 (Apocalypse14: 1)le saint secret de dieu arrivera à terme,cet ancien système du monde dirigé par Satan et ses hommes disparaîtra,le royaume au ciel de Jéhovah dirigera aussi notre terre,le paradis s'installera sur la terre,les justes posséderont la terre et sur elle ils résideront pour tjrs (Psaumes37: 29, Matthieu5: 5, Proverbes2: 21, Isaîe11: 9, Ecclésiaste1: 4, Isaîe45: 18 )...Le royaume céleste de Jéhovah dirigé par Jésus Christ est le seul espoir pour la terre entière,face à ce système diabolique planétaire défaillant en toute sorte.Très bientôt,il dirigera notre terre. Il y aura 144000 rois(reines)choisis par dieu parmi les êtres humains règnent avec J.C. au ciel après ses morts, ils(elles) dirigeront la terre, Jésus Christ est le roi de ces rois...Comme la fin de ce monde dirigé par Satan€$£ et ses militaires6 ainsi que ses peuples5 tombe bien à notre ère, donc,il faut oser à dire par tout le moyen à tous les humains que:ce qui ne font pas la volonté de dieu Jah et ce qui ne croit pas au sacrifice de Jésus C. pour nous délivrer mourront à HarMaguédon (Apocalypse16: 16)...Pourquoi l'indépendance à Jah n'est pas bonne? Parce que lors de la rébellion d'Adam, Eve et Satan contre Jéhovah notre dieu créateur,ils ont choisi de ne pas dépendre de dieu,alors que: dieu Jah les laisse se diriger entre eux sans intervenir pour prouver s'il est vraiment bon ou mauvais de ne pas dépendre de lui "ou" de ne pas suivre sa parole (ses conseils). Les conséquences de cette désobéissance (indépendance) est donc: la mort,la maladie,la haine,la tuerie6,l'égoisme de certains dirigeants,l'hypocrisie de la religion...Les conséquences de cette épreuve d'indépendance (qui a eu lieu sur notre terre) est très importante à démontrer à l égard des anges du ciel et des êtres humains aussi voila pkoi dieu Jah n a pas tué Satan,Adam et Eve sur le champs. Cette fois,la façon dont Jéhovah dirige ses créatures était remise en cause une fois pour toute,dieu Jah est notre créateur donc c'est lui seul connaît ce qui nous fera du bien ou du mal surtout pas Satan,il occupe aussi la bonne place pour nous conseiller(diriger)Voici mes adresses mail pour contact anonyme: carnage6.net@hotmail.fr, carnage6.net@hotmail.com, jesuschrist-est-notre-sauveur@example.com, cyclique-infini6.monde@hotmail.com
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