11.7.08

[geraldo diz] Não, não é que eu esteja realmente blasé, ou melhor, pode até ser mas é involuntário. Tento, de verdade, ser simpático - eu sempre não fui assim? - mas é que às vezes isso é difícil. As pessoas estão ávidas por novidades, porém querem saber novidades do outro lado do mundo, enquanto pra mim as únicas novidades que há estão aqui, na capacidade de empregar um olhar estrangeiro, não anestesiado por anos de caminhadas por esse cenário.
(É talvez que uma amiga me repassou uma frase: "Ninguém passa tanto tempo fora impunemente." E isso me doeu, porque gosto dela, e essa é exatamente uma dessas frases com que a pessoa pensa estar rompendo a teia, quando na verdade está só ajudando a tecê-la mais firmemente, e isso precisamente por passar a impressão de que se está mais próximo da saída. Pois se há um cisma nessa história toda - não desses cismas de coluna social, de quem pegou quem e quem fez qual barraco -, se há um cisma ele existe entre os que julgam que não se pode fugir do labirinto, deve-se habitá-lo, e os que pensam que a única forma de escapar é não procurar a saída, mas destruir as paredes uma a uma. Contudo essa frase, essa frasezinha, ah, ela está gravada no interior do pingente das pessoas que não participam do cisma, mas estão tentando fazer uma corrente humana na esperança de que necessariamente todos agindo juntos encontrarão uma saída, e esses são os razoáveis com quem os participantes do cisma nem se dignam mais a discutir.
Da minha parte, ambiciono uma trapaça de segundo grau: capturar com o espelho as investidas contra os muros de uns e o desconforto dos que permanecem em posição de lótus. Mas nunca achei possível elidir a escolha, e esse é todo o problema dessa posição narrativa. Além do fato de o espelho estar tendo problemas para registrar algo além do que está acontecendo naquele exato instante. Daí que talvez seja preciso outra tecnologia.)
[______ diz] Pois acho que é você que está anestesiado.