9.12.06

O jogador e o cavalheiro

Para o fim-de-semana, um desses trechos que precisam da obra mas mesmo assim pegamos pela mão e levamos sozinhos para conhecerem outras pessoas, pensando que elas irão se beneficiar - quando na verdade elas têm sérias tendências a copiar e colar no profile; dialoga um pouco com o que disse certa vez o Del nos Doces Enjoativos.

"O que havia de mais feio, ao primeiro relance, em toda aquela corja de jogadores, era o respeito pela ocupação, a seriedade e, mesmo, a deferência com que todos assediavam as mesas. Eis porque ali estava demarcada nitidamente a diferença entre o jogo chamado mauvais genre e outro permissível a uma pessoa decente. Existem dois tipos de jogo, o dos cavalheirops e o dos plebeus - este repassado da avidez do lucro, o jogo de todos os pulhas. Ali, isso estava rigorosamente diferenciado; mas como esta diferença é, na realidade, ignóbil! Um cavalheiro, por exemplo, pode apostar cinco ou dez luíses de ouro, raramente mais; aliás, pode apostar mesmo mil francos, no caso de ser muito rico, mas unicamente pelo jogo em si, por divertimento apenas - em essência, para verificar o processo de ganhos ou perdas; mas de modo nenhum se deve interessar pelo próprio ganho.
(...)
Um cavalheiro de verdade não deve ficar nervoso, mesmo no caso de perder toda a fortuna. O dinheiro deve ficar abaixo da condição do cavalheiro, de tal forma que não valha a pena preocupar-se com ele.
(...)
Todavia, às vezes não é menos aristocrático também o comportamento oposto, isto é, notar, prestar atenção, mesmo examinar, com um lornhão, por exemplo, toda aquela canalha: mas que não seja de outro modo a não ser aceitando toda aquela multidão e aquela imundície como uma distração de caráter especial, uma representação urdida para entretenimento dos cavalheiros. É admissível acotovelar-se em meio àquela multidão, desde que se olhe em torno com absoluta convicção de que se é apenas um observador e não parte do conjunto."


Fiódor Dostoiévski, Um Jogador, trad. Boris Schnaiderman

Hoje tem Rave Cultural na Casa das Rosas, das 18 às 7. E aí?

1 Comments:

Blogger ana rüsche argúi...

oi!

o cara é realmente foda. mandou bem na postagem.

ainda não vieram os outros sintomas (dor de garganta), quem sabe não escapo deles?

beijo

domingo, dezembro 10, 2006 12:27:00 PM  

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