Camila do Valle
Pra suprir a falta de imaginação dos últimos dias, causada em parte por planos de dominação mundial, em parte por uso excessivo do lado esquerdo do cérebro para espremer laranjas, venho com um poema alheio - no sentido vulgar do termo.
É a Camila do Valle, poeta carioca, que conheço apenas eletronicamente, e nem recíproco é. Achei que manda muito bem, e o google nos diz que o que segue é o poema mais famoso dela - tem até em alemão. A ironia fica por conta de ela, sendo carioca, ter escrito justamente esse poema, que aos ares cinzentos que rondam São Paulo parece trazer um certo sabor azul de sal.
***
Tango
Vejo milhões de Robertos todos os dias.
Mas foi só ver Anita uma única vez que fiz um poema.
Aí a cidade era eu.
Girinos vermelhos saíam de minha vagina,
escorriam veias pelas minhas pernas,
abrindo avenidas em pleno centro da América Latina.
Embora a linguagem seja dos homens,
a cidade saiu-me mulher.
De longe, a minha avó grita tão perto:
– Tenha modos, menina! Cruze as pernas!
E eu cruzo, adoravelmente, as pernas,
e encanto o senhor capitão.
De espada na cinta e ginete na mão. (eu ou ele?)
Peço-te, Anita, somente, que não se case com ele.
Se você não se casar: nem eu.
Continuemos com as pernas escrupulosamente abertas
na América Latina. De forma estratégica: sem modos.
(em "Mecânica da distração: os aprisântempos", 2005)
É a Camila do Valle, poeta carioca, que conheço apenas eletronicamente, e nem recíproco é. Achei que manda muito bem, e o google nos diz que o que segue é o poema mais famoso dela - tem até em alemão. A ironia fica por conta de ela, sendo carioca, ter escrito justamente esse poema, que aos ares cinzentos que rondam São Paulo parece trazer um certo sabor azul de sal.
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Tango
Vejo milhões de Robertos todos os dias.
Mas foi só ver Anita uma única vez que fiz um poema.
Aí a cidade era eu.
Girinos vermelhos saíam de minha vagina,
escorriam veias pelas minhas pernas,
abrindo avenidas em pleno centro da América Latina.
Embora a linguagem seja dos homens,
a cidade saiu-me mulher.
De longe, a minha avó grita tão perto:
– Tenha modos, menina! Cruze as pernas!
E eu cruzo, adoravelmente, as pernas,
e encanto o senhor capitão.
De espada na cinta e ginete na mão. (eu ou ele?)
Peço-te, Anita, somente, que não se case com ele.
Se você não se casar: nem eu.
Continuemos com as pernas escrupulosamente abertas
na América Latina. De forma estratégica: sem modos.
(em "Mecânica da distração: os aprisântempos", 2005)
3 Comments:
vi no google que ela é mineira. já a vi falando os poemas dela no cep 20.000. daquela vez, ela disse o poema da mulher elástico. um aviso de que tudo se passará em outras bases, de que os acordos estão desfeitos. vamos ter que reiniciar todas as negociações de convivência geral novamente. se eu conseguir, te envio. abraços, luiz coronado.
Gostei mesmo, a parte da avó é fantástica. Até lembrei da entrevista da dona do tapa na patera que disse que devíamos todos matar a avó que existe dentro de nós. Ó que isso dá rima.
Sim, Ela é mineira. E uma ótima professora também. :D
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