8.2.07

Mimesis e Poiesis

O post abaixo demonstra um pequeno prazer e uma pequena fraqueza (coisas tão diferentes) meus: quando leio alguém de que gosto, ou de quem, mesmo não gostando, ouço falar bem, tendo a criar um ou dois poemas mimetizando a novidade.

O curioso é que sei que não parece bem. As palavras para descrever vão de diluidor pra baixo. Onde está a originalidade? Queremos invenção! Não tem talento, vá fazer outra coisa. É assim que aprendemos a sermos nós mesmos, que a poesia precisa ter algo de nós.

Mas ninguém estranharia um pintor que ficasse uns anos oscilando entre os renascentistas, os expressionistas e os surrealistas; ou um músico que passasse dias trancado até acompanhar perfeitamente um disco de Miles Davis ou Thelonious Monk; existem artes, a dança e o teatro, cuja própria essência consiste em reproduzir com precisão aquilo que foi criado ou pensado por outros.

Por que, então, isso parece fraqueza quando falamos de poesia?

Desconfio que pelo mesmo preconceito que diz que, para escrever poesia, basta ter sentimentos e comunicar-se em alguma das línguas faladas pelos povos do mundo; e nem é preciso comunicar-se muito bem.

Em tempos relativistas, difícil negar a idéia acima. Mas a conclusão lógica dela é de que a diferença entre Pessoa e você é que ele é um gênio; um luminar que compreende a grande fagulha pela qual você passa batido todos os dias na saída do elevador. Vinicius é um espírito elevado cujo pensamento flui como se tocasse harpa, e Cabral um construtor natural de monstruosidades lingüísticas. Hilda é a essência do feminino em ebulição. Etc.

Nessa passagem, anula-se todo o trabalho de martelamento de linguagem feito por esses poetas. A poesia, na contramão de Mallarmé, sobe das palavras para as idéias. Torna-se ridícula a imitação, porque imitar as idéias geniais de Pessoa e Drummond é absolutamente impossível. Você precisa ter idéias novas. Você tem?

Mas, como já devem ter notado, eu não concordo. Acho que, embora seja louvável a atitude de alguns de manter seu próprio estilo e assim criar inclusive um nicho de mercado - algo extremamente apreciado -, essas pessoas são o equivalente literário do Iron Maiden ou AC/DC. Podem escrever 10 livros iguais, e os fãs desprezarão aqueles que se aventuram para fora do verdadeiro roquenrou. E quem então ousará se opor a metade dos moleques entre 13 e 17 anos da América Latina? Metal é o que pega! Não sei nem como no rádio só toca Red Hot...
(vale um pouco a leitura do Manifesto da Poesia Alheia)

Preconceitos pessoais à parte, notei contudo que tem um poeta contemporâneo que conheço bem e em quem absolutamente não saberia nem o que mimetizar. E o mais interessante é que ele tem por proposta exatamente a falta de originalidade. No próximo número, digo quem é.

4 Comments:

Anonymous Anônimo argúi...

hahá, gostei da parte que as palavras sobem para as idéias. eu tenho idéias, graças a um deus que não acredito.

e acompanharei para saber quem é.

beijos

quinta-feira, fevereiro 08, 2007 12:01:00 PM  
Blogger Carol M. argúi...

Taí a síntese de um pequeno dragão: voar sempre contra as correntes de ar vindas do Norte...

E não demore para postar novamente que estou curiosa para saber quem é, muito embora já desconfie.

Beijos meus!

quinta-feira, fevereiro 08, 2007 1:36:00 PM  
Blogger Unknown argúi...

Dizer que é essencial à poesia a originalidade é cometer uma extemporaneidade; digna da pretensão dos modernos.
Essa questão só tem relevância após o Romantismo; até então o preceito máximo era o de imitação. Como diz Horácio em sua Poética: "Compulsai os livros".

sexta-feira, fevereiro 09, 2007 2:55:00 AM  
Blogger Geraldo argúi...

Isso, a parte teórica tá no manifesto. Mas quem é Daniel?, hahaha...

sexta-feira, fevereiro 09, 2007 11:27:00 AM  

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