28.3.07

auf den Geistern

Não sei se publico ou se compro uma bicicleta. Enquanto isso, persisto no velho truque do título em outra língua pra trapacear sobre os sentidos. E tome reciclagem.

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auf den Geistern

Um bom fantasma dispensa
as velhas correntes, os impo-
nentes castelos já não
assombra; habita contudo
ainda os retratos antigos,
de onde atinge os viventes
como os de histórias remotas
outrora faziam. Torna-os
a cada dia treze ou
vinte e sete um pouco mais
tigres, serpentes e porcos,
com ilusões de chamas verdes
e espasmos de danças índias
ou árabes que jamais
existiram senão na
memória. Faz deles um
pouco espíritos.
.

18.3.07

Um drummond clariciano

Sério.

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ONTEM


Até hoje perplexo
ante o que murchou
e não eram pétalas.

De como este banco
não reteve forma,
cor ou lembrança.

Nem esta árvore
balança o galho
que balançava.

Tudo foi breve
e definitivo.
Eis está gravado

não no ar, em mim
que por minha vez
escrevo, dissipo.

.....- A rosa do povo

11.3.07

Kaváfis y los Muros

Andei discutindo um pouco com a Virna Teixeira a poesia do Konstantinos Kaváfis, grego que escreveu no começo do século XX com temas que retomam as epopéias. Provavelmente o poema mais famoso, que costumamos recitar e que vem a calhar em tempos de visitas do Imperador do Sol, é À Espera dos Bárbaros. Mas comprei um livro dele e, conversando com a Virna, descobrimos que os dois gostamos muito desse outro.

***

MUROS

Sem cuidado nenhum, sem respeito nem pesar,
ergueram à minha volta altos muros de pedra.

E agora aqui estou, em desespero, sem pensar
noutra coisa: o infortúnio a mente me depreda.

E eu que tinha tanta coisa por fazer lá fora!
Quando os ergueram, mal notei os muros, esses.

Não ouvi voz de pedreiro, um ruído que fora.
Isolaram-me do mundo sem que eu percebesse.


Konstantinos Kaváfis, trad. José Paulo Paes

***

Mesmo sem saber grego, dá pra notar que a tradução não ficou genial, a não ser que as rimas todas soem propositadamente mal. Valeria fazer o que o próprio José Paulo Paes, isto é, pegar as traduções francesas e a italiana e montar de novo o poema, com a ajuda de um ou outro helenista.
De qualquer forma, em tempos escassos e de muros paraguayos, é sempre bom saber que o mundo não evoluiu grande coisa.