29.6.08

Duas leituras

ou então : deseducando o olhar.

***

"Jamais ele havia visto aquele esplendor da pele morena, a sedução da cintura, nem aquela fineza dos dedos que a luz atravessava. Ele considerava sua caixinha de costura com estupefação, como coisa extraordinária. Quais eram seu nome, sua morada, sua vida, seu passado? Ele desejava conhecer os móveis do seu quarto, todos os vestidos que ela havia portado, as pessoas que freqüentava; e o desejo da possessão física mesma desaparecia sob uma vontade mais profunda, numa curiosidade dolorosa que não tinha limites. (p. 7)
(...)
Ele havia parado na Pont-Neuf, e, cabeça nua, peito aberto, aspirava o ar. Entretanto, ele sentia subir do fundo de si mesmo algo de incontrolável, um fluxo de ternura que o irritava, como o movimento das ondas sob seus olhos. No relógio de uma igreja, uma hora soou, lentamente, como uma voz que o tivesse chamado.
Então, ele foi tomado por um desses tremores da alma em que parece que somos transportados para um mundo superior. Uma faculdade extraordinária, cujo objeto ele desconhecia, lhe havia chegado. Perguntou-se, seriamente, se seria um grande pintor ou um grande poeta; - e decidiu-se pela pintura, pois as exigências desse ofício o aproximariam de Mme. Arnoux. Ele havia encontrado sua vocação! O objetivo de sua existência era claro agora, e o futuro infalível." (p. 59)

(Flaubert, 1869, t.l.)

***

"Vemos então o quanto é verdadeira a definição que Tylor deu da magia e que citamos mais acima: mistaking an ideal connection for a real one. Frazer a define mais ou menos nos mesmos termos:
'Os homens por erro tomaram a ordem das suas idéias pela ordem da natureza e imaginaram que, por serem capazes de exercer um controle sobre suas idéias, devem igualmente estar em condições de controlar as coisas.' (pp. 128-129)
(...)
Se é verdade que o todo-poder das idéias nos primitivos nos fornece um testemunho em favor do narcisismo, podemos tentar estabelecer um paralelo entre o desenvolvimento da maneira humana de conceber o mundo e o desenvolvimento da libido individual. Descobrimos então que tanto no tempo como no conteúdo, a fase animista corresponde ao narcisismo, a fase religiosa ao estágio da objetivação, caracterizado pela fixação da libido nos pais, enquanto que a fase científica tem seu pendor nesse estado de maturidade do indivíduo que é caracterizado pela renunciação à busca do prazer e pela subordinação da escolha do objeto exterior às conveniências e às exigências da realidade.
A arte é o único domínio em que o todo-poder das idéias se manteve até nossos dias. Na arte somente ainda acontece de um homem, atormentado pelos seus desejos, fazer alguma coisa que lhe lembre uma satisfação; e, graças à ilusão artística, esse jogo produz os mesmos efeitos afetivos que se se tratasse de algo real. É com razão que falamos da magia da arte e que comparamos um artista a um mágico. Mas essa comparação é talvez ainda mais significativa do que ela parece. A arte, que certamente não começou como 'a arte pela arte', se encontrava no início a serviço de tendências que estão hoje em dia na maior parte extintas. É permitido supor que entre essas tendências se encontrasse uma boa parte de intenções mágicas." (pp. 139-140)

(Freud, 1912-1913, t.l.)

***

Perdoem o meu mau português. Por outro lado, vejam o quanto o começo do último parágrafo ficaria bonito como citação no profile!

27.6.08

Lugares onde se mora

O galpão do Rodefer no vigtième. Hospedagem solidária pra mais de 50 poetas (porém evitem o inverno). Essa é a parte 1, essas coisas demoram pra carregar, non?




E um pouco do poeta, pra ser justo.

25.6.08

A essência do método sequóias

A Manu me pede pra explicar essa história da espanhola e dos argentinos. O que não deixa de ser contraditório, já que eu começava falando que explicar não era o meu negócio. Por isso é que a única resposta que eu posso dar não reponde à pergunta, entenderam?, esse é todo o nó da questão.

O nó da questão é que parece existir todo um consenso sobre o que é uma resposta adequada a uma pergunta. O exemplo mais óbvio disso é um debate com um bom político - que dá uma resposta que, de acordo com seu adversário, não responde à pergunta. Quer dizer, o emissor apresenta uma dúvida, esperando abrir com isso um leque maior ou menor de alternativas ao interlocutor. Este, porém, não escolhe nenhuma das alternativas concebidas pelo adversário, mas cria a sua própria alternativa e ali marca o "X". Quer dizer, ele sai das regras do jogo, porém de uma forma que não se pode dizer que saiu - pois não há ninguém autorizado a decidir quais são as alternativas permitidas e quais as barradas pela pergunta inicial. Por isso todo o diálogo (não o diálogo de conteúdo, mas essa espécie de 'supra-diálogo' sobre as regras) se trava no campo do convencimento. Num debate político, já mostravam os alemães, o importante não é necessariamente fazer sentido para si mesmo, e certamente não é fazer sentido para o adversário. Pois mesmo que vocês dois saibam que a regra não foi cumprida, o que importa é mesmo a opinião das pessoas que não fazer a menor idéia das regras do jogo - que têm delas apenas uma impressão.

Daí que eu chutaria que essa é a palavra-chave do método sequóias. Tem pessoas demais preocupadas com fazer sentido. Claro que isso não é nenhum problema para burocratas, pois sempre há alguém encarregado de determinar o sentido, de dizer onde começa e onde acaba o leque, se você fez ou não fez sentido, Alice. Porém, quanto mais cartesianos conheço, mais acho que jogar nesse campo, para os artistas, significa admitir a derrota antes mesmo do início da partida. Significa admitir, como faz a Folha, que é possível reunir meia dúzia de entendidos e julgar Capitu, e fim da história. Ou decidir, entre "o parcimonioso Machado de Assis e o derramado Guimarães Rosa", quem é o melhor escritor do Brasil - à exclusão de 185 milhões de pessoas, e mais outros tantos mortos que nem se manifestar podem.

Não se trata, vejam bem, de um relativismo barato (ou melhor, isso já seria uma questão de ponto de vista, ¿não seria?). Porém entendo escrever, que é o que eu consigo mais ou menos fazer, um pouco como tocar música ou pintar ou escolher um perfume - como se cada palavra evocasse no interlocutor toda uma gama irreduzível de coisas, tivesse raízes e levasse a outros lugares, onde dormem bichinhos insuspeitados. Fazer o teste é simples. Musse de chocolate. Glória. Fungos & cogumelos. Curitiba. Cristal. Liquidificador. Carrosséis. Vitória. Mulata. Sândalo. Cocaína. Luta cantando. Forró. Xogum. Rosas. Praça Roosevelt. Ísis e Osíris. Sol entrando pela janela.

Não se pode dizer que essas palavras todas têm cada uma um significado, ou seja, que evocam em quem lê as mesmas coisas que evocaram em quem escreveu. Pois o diferencial da poesia pra uma notícia de jornal não está no conteúdo das palavras, mas no tempo que o interlocutor dedica exatamente àquilo que não é o conteúdo. Por exemplo, algumas pessoas vão ler a seqüência acima no trabalho, em 2 segundos, e verão apenas uma seqüência aleatória de palavras, tendo pulado direto para a parte em que eu explico o que quis dizer com essa seqüência aleatória - estão atrás do conteúdo. Não saberão que demorei uns 15 minutos para escrevê-la, e vou retocando conforme continuo a escrever. Não saberão que provavelmente é a parte mais importante do post, pois foi quando pensei em leitores individualizados (sei que vocês estão aí!) e no que poderá evocar cada palavra neles, incluindo a ordem em que elas estão. A poesia pode estar numa notícia de jornal, mas ela envolve precisamente não encarar a notícia de jornal como uma notícia de jornal deve ser encarada - isto é, dentro do leque esperado pela comunidade comunicante (sic). É preciso apontar uma outra resposta.

Por isso é claro que ao me explicar eu não posso fazer sentido, o que estraga totalmente o sentido do verbo 'explicar'. A comunidade comunicante espera ser levada pela mão a entender um certo, hm, Gedichtsgeist. Porém essa coisa é impossível, não só por ser uma palavra que inventei, mas porque todo o jogo da poesia consiste exatamente em o emissor se esforçar ao máximo para repoduzir no receptor uma sensação, uma emoção - uma coisa, em suma - que ele próprio experimentou, sem portanto dispor dos meios para fazê-lo. É preciso então se virar com o que você tem à mão - e o que eu tenho à mão não é um piano nem uma tesoura nem um spray de tinta, mas um teclado. Quer dizer, vejam bem, o projeto do artista já está fracassado desde o início. Porém, e aqui, e aqui está o ponto central da questão, o artista não é apenas um fracassado: ele é um fracassado com uma arma.

***

Finalmente, sempre acho que se explicar deixa você entre duas alternativas: parecer pedante ou parecer um idiota. Pra deixar vocês na dúvida, adorno de maneira inapropriada, falando de um tema que não tinha entrado na história:

"O modo como o ensaio se apropria dos conceitos seria, antes, comparável ao comportamento de alguém que, em terra estrangeira, é obrigado a falar a língua do país, em vez de ficar balbuciando a partir das regras que se aprendem na escola. Essa pessoa vai ler sem dicionário. Quando tiver visto trinta vezes a mesma palavra, em contextos sempre diferentes, estará mais segura de seu sentido do que se tivesse consultado o verbete com a lista de significados, geralmente estreita demais para dar conta das alterações de sentido em cada contexto e vaga demais em relação às nuances inalteráveis que o contexto funda em cada caso. [...] O ensaio não apenas negligencia a certeza indubitável, como também renuncia ao ideal dessa certeza."

Manu tento responder à pergunta numa próxima. Porém veja que fiz um post bastante americano, não tanto no método como na forma.

20.6.08

O que eu vejo da janela (ou o que fazer com um blog)

Ando ruim pra me explicar, como alguns podem ter percebido. Arguably, nunca fui bom nisso. Mas às vezes é de madrugada, faltam 2 horas pra uma prova e você não consegue pensar em nada razoável. De forma que o melhor a fazer é se distrair com alguma questão distante, como se perguntar o que vai fazer com o seu blog. Ou seja, pra que coisas uma dessas criaturas pode servir e, qual estilo - dentre os disponíveis no mercado - você vai seguir.

Pra que serve então, não digo o da ana, que serve pra que o resto da blogosfera possa fazer um pouco de sentido, funcionando mais como orquestra e menos como gaitas de fole distribuídas a esmo na Paulista. Digo os outros. Digo este, que ressuscitei involuntariamente ao soar o previsível alarme dizendo que é hora de mudar de vida novamente, pois a falta de novidade nos consome - era esse o verbo?

É que não querendo publicar nada tão cedo, restam-me a alternativa espanhola e a alternativa argentina. Vejam: uma espanhola tem um leque, tem uma saia, tamancos e castanholas. Ela toda gira em torno desses objetos, como se fossem eles a vibrar e ela uma espécie de maestro da coisa toda, sua habilidade consistindo em coordenar para que a paisagem no leque apareça no instante do choque do tamanco direito com o chão, e em seguida a saia chacoalhe no exato instante em que o leque passa rente ao pescoço da figura humana quase indefesa diante da profusão de objetos que, por si só, garantem o espetáculo.

O casal de argentinos é quase órfão. Ela tem tacones, e ele talvez brilhantina ou um chapéu. Mas nada disso seria necessário: o espantoso é que todos os movimentos de um acontecem em relação ao outro, ou vice-versa. Ele não poderia estar controlando o que ela faz, nem ela saber o que ele fará em seguida. Tendo em vista que não há nenhum passinho ou regra aparente, aquelas duas figuras mal-iluminadas só têm uma à outra, evitam por pouco a queda; e como seguem a música? Mas seguem. São os heróis da América.

Essa era a encruzilhada no momento. Mas para indignação ou, mais provável, sonolência geral, ela já estava resolvida desde o começo. Por isso desentortem o nariz: aí vem ele novamente.
"A casa ficava no morro de Santa Teresa, a sala era pequena, alumiada a velas, cuja luz fundia-se misteriosamente com o luar que vinha de fora. Entre a cidade, com as suas agitações e aventuras, e o céu, em que as estrelas pestanejavam, através de uma atmosfera límpida e sossegada, estavam os nossos quatro ou cinco investigadores de coisas metafísicas, resolvendo amigavelmente os mais árduos problemas do universo."

11.6.08

Conselhos

Recuperei hoje minha internet, e sou logo bombardeado por informações sobre amanhã ser o dia de San Valentín de Brasil. Pra essa data tão especial, um conselho do Wilde:

"To cure the soul by means of the senses, and the senses by means of the soul!"

E um conselho meu: nunca sigam um conselho do Wilde.

5.6.08

O espírito Anti-Poetry

Começou assim: como sempre, ana rüsche, personal penélope desavessada, lançou um primeiro grito - numa esperança quase humana de colher manhã. Foi o Concurso de Anti-Poetry para Coelhos-João. E passamos todos a pensar no que fazer, quando veio a idéia do gesto mais anti-poetry que consegui imaginar (o que, convenhamos, diz mais sobre mim do que sobre a anti-poetry).

Deu trabalho, mas traduzi para a língua portuguesa as 1272 palavras, 7641 caracteres, do maior palíndromo já escrito, por Georges Perec, do Oulipo, em 1969.

Fundado, claro, nos já cânones poundianos (da melopéia, logopéia e fanopéia, caso alguém possa ter esquecido ou ainda desconfie que não tenho acesso à Wikipédia).

Os chineses claro que um dia descobriremos que já haviam escrito um maior ainda, no fim da dinastia Qin, e então Perec terá que ser reinventado. Mas pelo momento, deve ser a primeira tradução de um palíndromo longo que o mundo já viu. Não é pouca coisa.

Não sei se a contribuição ao movimento anti-poetry é válida. Sei que pra mim está no espírito, e levanta vários problemas.


9691

EDNA D'NILU
O. MU. ACERE. PSEG ROEG


9691

EDNA D'NILU
O. MU. ACERE. PSEG ROEG




Trace l'inégal palindrome. Neige. Bagatelle, dira Hercule. Le brut repentir, cet écrit né Perec. L'arc lu pèse trop, lis à vice-versa.


Traça o palíndromo desigual. Neve. Bagatela, dirá Hércules. O bruto remorso, esse escrito nascido Perec. O arco lido pesa demais, lírio em vice-versa.




Perte. Cerise d'une vérité banale, le Malstrom, Alep, mort édulcoré, crêpe porté de ce désir brisé d'un iota. Livre si aboli, tes sacres ont éreinté, cor cruel, nos albatros. Etre las, autel bâti, miette vice-versa du jeu que fit, nacré, médical, le sélénite relaps, ellipsoïdal.


Perda. Cereja de uma verdade banal, o Malstrom, Alep, morto adocicado, crepe levado desse desejo rompida duma vírgula. Livro tão abolido, tuas sagrações alquebraram, trombeta cruel, nossos albatrozes. Estar lasso, altar erigido, migalha vice-versa do jogo que fez, lustrada, médica, o selenita relapso, elipsoidal.




Ivre il bat, la turbine bat, l'isolé me ravale: le verre si obéi du Pernod -- eh, port su ! -- obsédante sonate teintée d'ivresse.


Ébrio ele se agita, a turbina se agita, o isolado me lava : o vidro tão obedecido do Pernod – eh, porto sabido! - obcecante sonata pintada de embriaguez.




Ce rêve se mit -- peste ! -- à blaguer. Beh ! L'art sec n'a si peu qu'algèbre s'élabore de l'or évalué. Idiome étiré, hésite, bâtard replié, l'os nu. Si, à la gêne sècrete-- verbe nul à l'instar de cinq occis--, rets amincis, drailles inégales, il, avatar espacé, caresse ce noir Belzebuth, oeil offensé, tire !


Esse sonho se pôs – peste! - a sacanear. Beh! A arte seca não tem tão pouco que álgebra se elabore do ouro avaliado. Idioma estirado, hesita, bastardo redobrado, o osso nu. Sim, um embaraço secreto – verbo inútil à maneira dos cinco mortos –, redes magras, cordões desiguais, ele, avatar espaçado, acaricia esse negro Belzebu, olho ofendido, atira!




L'écho fit (à désert): Salut, sang, robe et été.


O eco fez (a deserto): Saudação, sangue, batina e verão.




Fièvres.


Febres.




Adam, rauque; il écrit: Abrupt ogre, eh, cercueil, l'avenir tu, effilé, genial à la rue (murmure sud eu ne tire vaseline séparée; l'épeire gelée rode: Hep, mortel ?) lia ta balafre native.


Adão, rouco; ele escreve: Abrupto ogre, eh, caixão, o futuro você, esgarçado, genial pela rua (murmúrio sul teve não tira vaselina separada; a aranha congelada lima: Hep, mortal?) ligou tua cicatriz nativa.




Litige. Regagner (et ne m'...).


Litígio. Reganhar (e não me ...)




Ressac. Il frémit, se sape, na ! Eh, cavale! Timide, il nia ce sursaut.


Ressaca. Ele se agita, se desgasta, nah! Eh, fuga! Tímido, ele negou esse sobressalto.




Hasard repu, tel, le magicien à morte me lit. Un ignare le rapsode, lacs ému, mixa, mêla: Hep, Oceano Nox, ô, béchamel azur ! Éjaculer ! Topaze !


Acaso satisfeito, tal, o mágico à morta me lê. Um ignaro o rapsodo, laço emocionado, mexeu, misturou: Hep, Oceano Nox, ô, béchamel azul! Ejacular! Topázio!




Le cèdre, malabar faible, Arsinoë le macule, mante ivre, glauque, pis, l'air atone (sic). Art sournois: si, médicinale, l'autre glace (Melba ?) l'un ? N'alertai ni pollen (retêter: gercé, repu, denté...) ni tobacco.


O cedro, brutamontes frágil, Arsínoe o macula, louva-a-deus bêbado, glauco, pior, o ar átono (sic). Arte sombria: sim, medicinal, o outro gelo (Melba?) um? Não alertei nem pólen (remamar: rachado, satisfeito, denteado) nem tabaco.




Tu, désir, brio rimé, eh, prolixe nécrophore, tu ferres l'avenir velu, ocre, cromant-né ?


Tu, desejo, brio rimado, eh, prolixo necróforo, tu ferras o destino hirsuto, ocre, nascido cromando?




Rage, l'ara. Veuglaire. Sedan, tes elzévirs t'obsèdent. Romain ? Exact. Et Nemrod selle ses Samson !


Fúria, a arara. Canhão. Sedan, teus elzevires te obcecam. Romano? Exato. E Nimrod sela seus Sansão!




Et nier téocalli ?


E negar teocali?




Cave canem (car ce nu trop minois -- rembuscade d'éruptives à babil -- admonesta, fil accru, Têtebleu ! qu'Ariane évitât net. Attention, ébénier factice, ressorti du réel. Ci-git. Alpaga, gnôme, le héros se lamente, trompé, chocolat: ce laid totem, ord, nil aplati, rituel biscornu; ce sacré bédeau (quel bât ce Jésus!). Palace piégé, Torpédo drue si à fellah tôt ne peut ni le Big à ruer bezef.


Cave canem (pois esse nu demais rostinho – remboscada de eruptivos a balbucio – admoestou, fio aumentado, Meudeus! Que Ariadne evitasse nítido. Atenção, ébano factício, saído do real. Aqui jazido. Alpaca, gnomo, o herói se lamenta, enganado, chocolate: esse feio tótem, horrendo, nilo aplainado, ritual bizarro; esse sagrado sacristão (que albarda esse Jesus!) Palácio-bomba, Torpedo espesso tão a fellah cedo não pode nem o Big a coicear bezef.




L'eugéniste en rut consuma d'art son épi d'éolienne ici rot (eh... rut ?). Toi, d'idem gin, élèvera, élu, bifocal, l'ithos et notre pathos à la hauteur de sec salamalec ?


O eugenista no cio consumiu da arte a espiga de eoliana aqui arroto (eh...cio?). Tu, de igual gim, criará, eleito, bifocal, o ithos e nosso pathos à altura de seco salamaleque?




Élucider. Ion éclaté: Elle ? Tenu. Etna but (item mal famé), degré vide, julep: macédoine d'axiomes, sac semé d'École, véniel, ah, le verbe enivré (ne sucer ni arreter, eh ça jamais !) lu n'abolira le hasard ?


Elucidar. Íon estourado: Ela? Sustentado. Etna meta (item mal-afamado), degrau vazio, remédio: macedônia de axiomas, saco semeado de Escola, venial, ah, o verbo embriagado (não chupar nem parar, eh isso jamais!) lido não abolirá o acaso?




Nu, ottoman à écho, l'art su, oh, tara zéro, belle Deborah, ô, sacre ! Pute, vertubleu, qualité si vertu à la part tarifé (décalitres ?) et nul n'a lu trop s'il séria de ce basilic Iseut.


Nu, otomano a eco, a arte sabida, oh, tara zero, bela Deborah, ô, sagração! Puta, maldição, qualidade tão virtude à parte taxada (decalitros?) e ninguém leu demais se seriou desse basilisco Isolda.




Il à prié bonzes, Samaritain, Tora, vilains monstres (idolâtre DNA en sus) rêvés, évaporés: Arbalète (bètes) en noce du Tell ivre-mort, émeri tu: O, trapu à elfe, il lie l'os, il lia jérémiade lucide. Petard! Rate ta reinette, bigleur cruel, non à ce lot ! Si, farcis-toi dito le coeur !


Ele rezou bonzos, Samaritano, Torá, vilões monstros (idólatra DNA a mais) sonhados, evaporados: Arbalesta (animais) em núpcia do Tell ébrio-morto, ilmerita tu: O, atarracado à elfo, ele liga o osso, ele ligava jeramíada lúcido. Fogos! Erra tua rainhazinha, olheiro cruel, não a esse lote! Sim, empanturre-se idem o coração!




Lied à monstre velu, ange ni bête, sec à pseudo délire: Tsarine (sellée, là), Cid, Arétin, abruti de Ninive, Déjanire. . .


Lied de monstro hirsuto, anjo nem animal, seco a pseudo-delírio: Tzarina (selada, aqui), Cid, Aretino, bruto de Nínive, Dejanira...




Le Phenix, eve de sables, écarté, ne peut égarer racines radiales en mana: l'Oubli, fétiche en argile.


A Phoenix, eva de areias, excluída, não pode perder raízes radiais em mana: o Olvido, fetiche em argila.




Foudre.


Raio.




Prix: Île de la Gorgone en roc, et, ô, Licorne écartelée, Sirène, rumb à bannir à ma (Red n'osa) niére de mimosa: Paysage d'Ourcq ocre sous ive d'écale; Volcan. Roc: tarot célé du Père.


Preço: Ilha da Górgona em rocha, e, ô, Licórnio desmembrado, Sereia, rumo a banir de ma (Red não ousou) nieira de mimosa: Paisagem de Urca ocre sob ajuga de casca; Vulcão. Rocha: tarô escondido do Pai.




Livres.


Livros.




Silène bavard, replié sur sa nullité (nu à je) belge: ipséité banale. L' (eh, ça !) hydromel à ri, psaltérion. Errée Lorelei...


Sileno falastrão, recurvado sobre sua estupidez (nu a eu) belga: ipseidade banal. O (eh, isso!) hidromel riu, saltério. Vagueada Lorelei...




Fi ! Marmelade déviré d'Aladine. D'or, Noël: crèche (l'an ici taverne gelée dès bol...) à santon givré, fi !, culé de l'âne vairon.


Ikh! Marmelada curvado de Aladine. De ouro, Noel: creche (o ano aqui taverna congelada desde bacia...) a santão geado, ikh!, fodido do burro vário.




Lapalisse élu, gnoses sans orgueil (écru, sale, sec). Saluts: angiome. T'es si crâneur !


Lapalisse eleito, gnoses sem orgulho (cor-crua, sujo, seco). Saudações: angioma. Seu fanfarrão!




. . .


***




Rue. Narcisse ! Témoignas-tu ! l'ascèse, là, sur ce lieu gros, nasses ongulées...


Rua. Narciso! Testemunhaste! a ascese, lá, sobre esse grande lugar, armadilhas unguladas...




S'il a pal, noria vénale de Lucifer, vignot nasal (obsédée, le genre vaticinal), eh, Cercle, on rode, nid à la dérive, Dèdale (M. . . !) ramifié ?


Se ele tem empalamento, moinho venal de Lúcifer, caracol nasal (obcecada, o gênero vaticinal), eh, Círculo, vagueamos, ninho à deriva, Dédalo (M...!) ramificado?




Le rôle erre, noir, et la spirale mord, y hache l'élan abêti: Espiègle (béjaune) Till: un as rusé.


O rol erra, negro, e a espiral morde, lá fatia o impulso embrutecido: Till (fedelho) Espertalhão: um ás malandro.




Il perdra. Va bene.


Ele perderá. Va bene.




Lis, servile repu d'électorat, cornac, Lovelace. De visu, oser ?


Lírio, servil satisfeito de eleitorado, mahout, Lovelace. De vista, ousar?




Coq cru, ô, Degas, y'a pas, ô mime, de rein à sonder: à marin nabab, murène risée.


Galo cru, ô, Degas, num tem, ô mímico, de rim a sondar: a marinho nababo, moréia risada.




Le trace en roc, ilote cornéen. O, grog, ale d'elixir perdu, ô, feligrane! Eh, cité, fil bu ! ô ! l'anamnèse, lai d'arsenic, arrérage tué, pénétra ce sel-base de Vexin. Eh, pèlerin à (Je: devin inédit) urbanité radicale (elle s'en ira...), stérile, dodu.


O traço em rocha, hilota corneano. O, rum, breja de elixir perdido, ô, filigrana! Eh, cidade, fio bebido! ô! a anamnese, lai de arsênico, dívida morta, penetrou esse sal-base de Vexin. Eh, peregrino de (eu: adivinho inédito) urbanidade radical (ella partirá), estéril, gordinho.




Espaces (été biné ? gnaule ?) verts.


Espaços (foi arada? cachaça?) verdes.




Nomade, il rue, ocelot. Idiot-sic rafistolé: canon ! Leur cruel gibet te niera, têtard raté, pédicule d'aimé rejailli.


Nômade, ele coiceia, onça. Idiota-sic remendado: lindo! Sua cruel forca te negará, girinó fracassado, pedículo de amado ricocheteado.




Soleil lie, fléau, partout ire (Métro, Mer, Ville...) tu déconnes. Été: bètel à brasero. Pavese versus Neandertal ! O, diserts noms ni à Livarot ni à Tir ! Amassez.


Sol liga, flagelo, por toda a parte ira (Metrô, Mar, Cidade) falas abobrinha. Verão: betel a brasero. Pavese versus Neandertal! O, eloqüentes nomes nem em Livarot nem em Tir! Ajuntem.




N'obéir.


Não obedecer.




Pali, tu es ici: lis abécédaires, lis portulan: l'un te sert-il ? à ce défi rattrapa l'autre ? Vise-t-il auquel but rêvé tu perças ?


Pali, estás aqui: lês abecedários, lês portulano: algum te serve? A esse desafio chegou o outro? Visa ele à meta sonhada que perfuraste?




Oh, arobe d'ellébore, Zarathoustra! L'ohcéan à mot (Toundra ? Sahel ?) à ri: Lob à nul si à ma jachère, terrain récusé, nervi, née brève l'haleine véloce de mes casse-moix à (Déni, ô !) décampé.


Oh, arroba de heléboro, Zaratustra! O ohceano de palavra (Tundra? Sahel?) ao rido : Chapéu em perna-de-pau sim à minha rotação de culturas, terreno recusado, capanga, nascido breve o hálito veloz de meus quebra-mozes a (Negação, ô!) retirado.




Lu, je diverge de ma flamme titubante: une telle (étal, ce noir édicule cela mal) ascèse drue tua, ha, l'As.


Lido, divirjo de minha flama titubeante: uma tal (banquinha, essa negra edícula isso mal) ascese dura matou, há, o Ás.




Oh, taper ! Tontes ! Oh, tillac, ô, fibule à reve l'Énigme (d'idiot tu) rhétoricienne.


Oh, bater! Depenadas! Oh, prancha, ô, broche, de sonho o Enigma (de idiota tu) retoriciana.




Il, Oedipe, Nostradamus nocturne et, si né Guelfe, zébreur à Gibelin tué (pentothal ?), le faiseur d'ode protège.


Ele, Édipo, Nostradamus noturno e, se nascido Guelfo, zebrador de Gibelino morto (pentotal?), o fazedor de ode protege.




Ipéca...: lapsus.


Ipecuacanha...: lapso.




Eject à bleu qu'aède berça sec. Un roc si bleu ! Tir. ital.: palindrome tôt dialectal. Oc ? Oh, cep mort et né, mal essoré, hélé. Mon gag aplati gicle. Érudit rossérecit, ça freine, benoit, net.


Eject de azul que aedo ninou seco. Uma rocha tão azul! Tiro. ital. : palíndromo cedo dialetal. Oc? Oh, cepa morta e nascida, mal impulsionada, gritada. Meu gag aplainado se retira. Erudito rossorrelato, freia, bento, limpo.




Ta tentative en air auquel bète, turc, califat se (nom d'Ali-Baba !) sévit, pure de -- d'ac ? -- submersion importune, crac, menace, vacilla, co-étreinte...


Tua tentativa no ar ao qual besta, turco, califado se (nome de Ali-Baba!) sevicia, puro de – certo? – submersão inoportuna, crash, ameaça, vacilou, co-asfixiada...




Nos masses, elles dorment ? Etc... Axé ni à mort-né des bots. Rivez ! Les Etna de Serial-Guevara l'égarent. N'amorcer coulevrine.


Nossas massas, elas dormem? Etc...Orientado nem a natimorto dos tortos. Pregai! Os Etna de Serial-Guevara o desnorteiam. Não carregar culebrina.




Valser. Refuter.


Valsar. Refutar.




Oh, porc en exil (Orphée), miroir brisé du toc cabotin et né du Perec: Regret éternel. L'opiniâtre. L'annu- lable.


Oh, porco no exílio (Orfeu), espelho rompido do toc cabotino e nascido do Perec : remorso eterno. O opiniatra. O anulável.




Mec, Alger tua l'élan ici démission. Ru ostracisé, notarial, si peu qu'Alger, Viet-Nam (élu caméléon !), Israël, Biafra, bal à merde: celez, apôtre Luc à Jéruzalem, ah ce boxon! On à écopé, ha, le maximum


Cara, Alger, matou o impulso aqui demissão. Córrego ostracizado, notarial, tão pouco que Alger, Viet-Nam (eleito camaleão!), Israel, Biafra, baile de merda: cala, apóstolo Lucas em Jeruzalém, ah essa zona! Tomamos todas, ha, o máximo




Escale d'os, pare le rang inutile. Métromane ici gamelle, tu perdras. Ah, tu as rusé! Cain! Lied imité la vache (à ne pas estimer) (flic assermenté, rengagé) régit.


Escala de osso, orna a fileira inútil. Metrômano aqui bacia, perderás. Ah, roubaste! Caim! Lied imitada a vaca (a não estimar) (gambé jurado, realistado) rege.




Il évita, nerf à la bataille trompé.


Ele evitou, nervo na batalha enganado.



Hé, dorée, l'Égérie pelée rape, sénile, sa vérité nue du sérum: rumeur à la laine, gel, if, feutrine, val, lieu-créche, ergot, pur, Bâtir ce lieu qu'Armada serve: if étété, éborgnas-tu l'astre sédatif ?


Hê, dourado, a Egéria depenada rala, senil, sua verdade nua do soro: rumor à lã, gel, teixo, feltro, vale, lugar-manjedoura, espora, puro, Construir esse lugar que Armada serve: teixo podado, descascaste o astro sedativo?




Oh, célérités ! Nef ! Folie ! Oh, tubez ! Le brio ne cessera, ce cap sera ta valise; l'âge: ni sel-liard (sic) ni master-(sic)-coq, ni cédrats, ni la lune brève. Tercé, sénégalais, un soleil perdra ta bétise héritée (Moi-Dieu, la vérole!)


Oh, celeridades! Nave! Loucura! Oh, entubai! O brio não cessará, esse cabo será tua valise; a idade: nem sal-vintém (sic) nem mestre-(sic)-galo, nem cidra, nem a lua breve. Terceado, senegalês, um sol perderá tua burrice herdada (Eu-Deus, a varíola!)




Déroba le serbe glauque, pis, ancestral, hébreu (Galba et Septime-Sévère). Cesser, vidé et nié. Tetanos. Etna dès boustrophédon répudié. Boiser. Révèle l'avare mélo, s'il t'a béni, brutal tablier vil. Adios. Pilles, pale rétine, le sel, l'acide mercanti. Feu que Judas rêve, civette imitable, tu as alerté, sort à blason, leur croc. Et nier et n'oser. Casse-t-il, ô, baiser vil ? à toi, nu désir brisé, décédé, trope percé, roc lu. Détrompe la. Morts: l'Ame, l'Élan abêti, revenu.


Afanou o sérvio glauco, pior, ancestral, hebreu (Galba e Sétimo Severo). Cessar, esvaziado e negado. Tetano. Etna desde bustrofédon repudiado. Bosquear. Revela o avaro drama, se ele te benzeu, brutal avental vil. Adiós. Tu pilhas, pálida retina, o sal, o ácido mascate. Fogo que Judas sonha, cebolinha imitável, tu alertaste, destino brasonado, seu gancho. E negar e não ousar. Ele quebra, ó, beijo vil? a ti, nu desejo rompido, falecido, tropo perfurado, rocha lida. Desiluda-a. Mortos: a Alma, o Impulso embrutecido, revindo.




Désire ce trépas rêvé: Ci va ! S'il porte, sépulcral, ce repentir, cet écrit ne perturbe le lucre: Haridelle, ta gabegie ne mord ni la plage ni l'écart.


Deseje esse falecimento sonhado: Isso vai! Se ele porta, sepulcral, esse remorso, este escrito não perturba o lucro: Pangaré, teu desperdício não morde nem a praia nem a distância.